quinta-feira, janeiro 25, 2007

Newton

Acordou com o vento gelado. Era noite. Braços e pernas abertos. A nudez era mero detalhe. Podia ver, não queria acreditar. Nunca, estar nu, causava-lhe tanto descaso. Talvez não fosse descaso, pois, como se constranger acordando despido em queda livre? Gritar e calar eram sinônimos. Nenhuma ajuda cairia do céu, a não ser que viesse de si. Sabia onde estava, e sabia que não estava. O vento, gelado. Desesperado. Pensar tornara-se ridículo. Pensar em quê? A racionalidade resumia-se a pó. E pó era o que desejava ser. As coisas ficavam maiores. A ignorância principalmente. O que fazer? O que fazer?! Fecharam-se os olhos na esperança de acordar em outro lugar. Abriram-se os olhos. As coisas ainda maiores. Finalmente conseguiu pensar em algo. Por que estava ali? O vento, gelado. Por que? As luzes. Havia vida em algum lugar. Mas por que? Voar não é do ser humano. Caía. Algo tremia. O corpo tremia? A barriga tremia. Um celular grudado no corpo. Atendeu. Então, pela primeira vez, olhou para o lado. E olhou para baixo. Não houve tempo de ver a morte. Era noite. Braços e pernas abertos. A nudez era mero detalhe.